Voa passarinho

Se a vida não pode te nutrir na fonte

absorve tudo até o horizonte

Degusta o parco grão

Disperso pelo chão

Passarinho, ele vai te alimentar

Não percas tempo, não lamentes

Um passarinho não range os dentes

Permite a ti ser leve e voar

pra onde o vento te levar

E talvez de nada lembres

Só o prazer do vento na cara

no céu de imensidão rara

Voar

Se eu pudesse dar um grande salto, queria voar

mas me ensinaram a caminhar 

Eu obedeço, vou respeitar

Mas cresço e caminho sem parar

Quem me vê gosta disso

Me segue, muda, assume o risco

Virei líder sem querer

E quando pude perceber

Todos tínhamos asas

O topo mais alto

Dois amigos saíram em uma grande aventura. Ícaro sonhava voar, enquanto Topo sonhava escalar e chegar ao pico das montanhas altas que circundam a cidade. Aliás, o seu apelido “Topo” vinha daí, ele sempre apontava uma montanha e dizia: como eu gostaria de subir no topo… 

– Nunca vamos conseguir – disse Topo, enquanto caminhava pela estrada ao lado de Ícaro. 

– Ah, deixa disso, pelo menos dá pra brincar de sentir o vento – disse Ícaro, fechando os olhos – Estou voando! – Abriu os braços e começou a correr.

Topo fez o mesmo, de olhos abertos, mas não achou nenhuma graça.

Ícaro gostou tanto que esqueceu de abrir os olhos e tropeçou numa pedra. Pof! no chão.

– Ai!

Ralou o joelho….. Mas achou uma linda pedra preciosa.

– Olha, ralei o joelho numa ametista! Vamos vender?

– Quem disse que é ametista? Quem vai comprar isso? Ah, vamos embora, deixa essa pedra aí.

– Não, vou levar na lojinha Vende-vende.

– A loja daquele pilantra?

– Pilantra? Deixa o cara em paz… Ele compra e vende de tudo! Vamos!

– Ah, tá bom… 

– Se foram os dois levando aquela pedra.

Não valia tanto quanto Ícaro esperava, mas deu pra comprar um curativo pro joelho e um brinquedo bem legal: uma pipa gigante em forma de avião, a maior que já viram!

Topo não gostou tanto da pipa. Era grande, colorida demais e desengonçada. E ele estava com vergonha de andar na rua carregando aquele troço, todo mundo ficava olhando, alguns riam. Ícaro por sua vez, estava tão contente que sorria de volta para as pessoas que se divertiam com a cena engraçada.

– Onde você quer empinar isso? Perguntou Topo.

– No campo de futebol.

Caminharam até o campo, Ícaro caminhava desenrolando a longa rabiola, estava ansioso, sentia que seria fantástico. Topo sentou-se embaixo da goleira.

– Você não vem?

– Talvez depois.

“Dane-se”, pensou Ícaro, “eu vou empinar isso sozinho! Uau, é enorme mesmo!!”

O vento estava um pouco forte, mas Ícaro achou perfeito para empinar aquela pipa especial.

– Olha só Topo, o avião vai decolar!

Então Ícaro começou a correr e a pipa foi tragada por uma rajada de vento e começou a subir. 

Topo ficou lá na goleira. No início, Topo olhava desinteressado; logo depois ficou mais atento e em mais uns instantes, estava apavorado. Levantou e foi correndo ao encontro de Ícaro no meio do campo. 

– Segura Ícaro, segura! Estou chegando!

– Ai minha nossa… socorrooo!!!

A pipa puxava com tanta força que quase levantava Ícaro do chão. Toco chegou rápido e grudou na corda com toda a força, enrolou duas vezes em cada mão e cravou os pés no chão, para garantir que a pipa não levasse Ícaro pelos ares!

– Ufa… – disseram os dois.

Mal respiraram aliviados, veio uma nova rajada de vento. Parecia um temporal se armando. Os dois se desequilibraram e sentiram os pés flutuando, o vento no rosto… 

– Uau!! Estamos voando!!!!

Ícaro nem se deu conta do perigo de sair voando com uma pipa, estava radiante! Era seu grande sonho sendo realizado!!

Topo, ao contrário, percebeu imediatamente a gravidade da situação e, em pânico, não conseguia nem falar.

O temporal se formava rapidamente e o vento não dava trégua. A pipa-avião levava os dois para o alto e para longe do campo de futebol. Eles estavam firmemente agarrados na corda. 

Topo tentava descobrir onde ele estava, mas girava tanto com o vento que era impossível. Só conseguiu ver uma montanha muito alta se aproximando… rapidamente…

– Cuidaaaado! Wooow!! – Foi o que Topo conseguiu falar.

Sentiram um sacudão intenso no corpo. Ao abrir os olhos, estavam pendurados, enrolados na corda, a corda enrolada em galhos… a uma altura de apenas um metro do chão!! 

– Estamos salvos! Wow, isso foi…. Incrível!! Nós voamos de verdade!! Uhuuuu!!!

Ícaro estava em êxtase.

Topo ainda estava em choque. Ele não acreditava que estava em terra firme e tinha sobrevivido. Começou a se desenrolar, se soltou e caiu no chão, as mãos estavam um pouco doloridas de tanto segurar a corda, mas estava tudo bem. Olhou ao redor, levantou-se de pé para ver melhor.

– Ícaro, olha só…

Poff!! Ícaro também caiu no chão, com pipa e tudo.

– Olha o quê?

Topo perdeu a paciência.

– Mas você é um avoado mesmo! Olha!!

Pegou os braços do amigo, que estava todo enrolado na corda e o fez ficar de pé.

– Uau….. 

A vista era incrível, podiam ver a cidade toda, as cidades vizinhas e o pico das outras montanhas. Topo abriu os braços, olhou para o alto e soltou um grito:

– Eu estou na montanha mais altaaa!!!!

Ícaro fechou os olhos para sentir o vento. Estava um pouco frio, mas ele estava adorando.

Topo, ainda surpreso, falou:

– Nós voamos de verdade numa pipa!!

E caíram na risada, passando as mãos pelo ombro e olhando juntos a paisagem.  O temporal se afastou, já tinha menos vento, e começavam a cair as primeiras gotas de chuva. Mas não chegava a atrapalhar a vista incrível. começaram a procurar suas casas, mas não conseguiram ver direito, estavam tão pequenas. O campo de futebol parecia uma pequena folha de papel verde caída no chão da cidade, lá embaixo. 

– Ícaro, como vamos voltar? 

– Hum, pois é… se eu tivesse meu celular… Quem sabe você me ajuda a desenrolar primeiro, deu um nó aqui…

– Deixa eu te ajudar, eu me desenrolei num instante – disse Topo, indo ajudar Ícaro.

– Ah, tá se achando, só porque subiu no topo da montanha mais alta! 

– É verdade. E você, ventinho, finalmente conseguiu voar. Ventinho, hehehe, agora esse é o seu apelido, Ventinho!!

– Ah, não!

– Vou tirar uma foto da gente aqui pra mostrar pra todo mundo.

– Você trouxe seu o celular?

– Claro!

– Ufa! Tenho certeza que vou ficar duas semanas sem jogar, de castigo, mas isso valeu a pena!!

E os dois amigos mandaram as fotos naquele momento para os pais e todos os amigos, aproveitando um pouco mais a vista até que alguém viesse buscá-los.