Pós-niilismo

Nas dificuldades 

encontrei verdades

que guiam minha vida

Perdi toda a vaidade

Foi uma dor, sabe

bem dolorida

Ainda lembro

um ou outro dia

daquele tempo

que eu sentia

que tudo podia

Ocorre que, seja sina 

sejam escolhas

daqui hoje posso ver

era só plástico-bolhas

Hoje tenho liberdade

vivo em paz, bem direito

sem apego e sem receio

O caminho do amor é tão liberto

desnorteia a razão certeira

mas o medo se esgueira

até que se aceita

e desiste da luta

Então, abrupta

e abundantemente

veio inovação persistente

e um coração tão grande

que ama toda a gente 

É que sempre vejo e percebo

todas as dores do mundo

Todas, de todos

grandes e pequenos

importantes e bem menos

inteligentes e tolos

pessoa ou animal

todos, afinal

Quem conhece a dor do absurdo

e mergulha no niilismo total

ou sucumbe ao fatal

ou renasce e reescreve tudo

Ressignifica a vida e a morte

e domina o bem e o mal

Na pandemia

Era uma vez um jovem que gostava de fazer muitas coisas 

e tinha que fazer muitas outras de que não gostava

O tempo foi passando, se tornou um adulto

que gostava de fazer algumas coisas mas não tinha tempo

pois precisava fazer outras

Porém, sempre ficava sonhando que realizava

sentindo na sua fantasia a amplitude e realização 

que o dia a dia limitava em vão

Assumiu mais compromissos para, claro

se estruturar e poder então se realizar

Os compromissos tomaram tanto tempo e dinheiro! 

Não dava mais nem tempo de imaginar

Agora não tinha mais amplitude, só obrigações

Esqueceu dos sonhos

a mente aprendeu a só raciocinar

Estava no auge da vida

nunca esteve tão estruturado

e tão limitado 

Então um dia… 

pareceu que deu tudo errado

Doença, surto, crise, pandemia… 

o que você imaginar, isso mesmo

tudo da noite para o dia

A estrutura parecia que caía. 

Desilusão, sofrimento… 

Ele não era mais nada nesse momento

E começou a sobrar tempo

lembrou de velhos sonhos

Recomeçar? Boa ideia. 

Reduziu os pesos

abandonou as vaidades

quanta perda de tempo! 

Reencontrou vivacidade

Os antigos sonhos não se realizaram

mas os adaptou à realidade 

e esta os abraçou

O ser humano é tão versátil 

O mundo comporta tanto enredo

Realizou-se, foi agradável

não sonhou mais em segredo

Sair do casulo

Me despeço

quebro algo em pedaços

e o que sobra

sem o peso de antes

parece frágil

mas também é leve

 

Despedida olhando pra trás

é trapaça

Apenas choro e vou adiante

sem me apegar

deixo passar

somente

 

Cada momento é docemente doído

como a borboleta que sai do casulo

e suas asas ainda não batem

É preciso esperar

Quero escrever recomeçar

mas não sei quando rimar

Deixo a dor para trás

Como um vulcão no peito

a pressão me oprime

tanta dor e tragédia revive 

na minha carne impressa

pela dor, temor e pressa

para sair de tudo e deixar

o que é pesado demais

para suportar

 

Um passado grudento apegado

Fica pra trás, tu já tá passado!

Fico até meio irritado 

E quando, exausto e brabo

resolvo com força esquecer

Daí que o d3/0%!º&* gruda pra valer  

 

Desisto 

de me livrar de você

 

Mas não vou morrer

sem te olhar

sem te dominar

fera dos meus pesadelos

força que suga minha seiva

 

e ao tocar com a ponta dos dedos 

no ódio e no medo

me embarga 

uma dor e uma lágrima

 

Nessa água emocionada

vejo teu grande desejo de ser 

melhor do que foi

e deixar descansar o que dói

 

A morte lenta da tua dor

que meu olhar contempla 

com fervor

é inexorável

e desejável.

 

Deixo tua dor dormir

E levo tua vida ao porvir

 

Ao pouco que resta 

dou as mãos pela fresta

Até deixar tudo sumir

 

Tudo silencia

Só a minha resistência

ainda me prende aqui

 

Agora se evidencia

na minha própria experiência

que tudo precisa partir

Não adianta resistir

 

E agora o que fazer? 

Respiro fundo 

e olho no mundo

o simples sol nascer.