Nariz

Uma vez era difícil sair de mim

criança centrada e egoísta

mas amadureci um pouco, assim

perdi o ego de vista

Nossa, a vida é tão linda

Porque eu andava ainda

olhando o próprio nariz?

Como é bom ser feliz

O certo e o errado

Nem tão perto, nem tão longe

mas ficar no meio parado?

O que é certo e o que é errado?

Ser um guerreiro ou um monge?

 

Extremos extremados

parecem equivocados

Mas no meio, desconfigurado

é tão desconectado

 

O que move e leva adiante?

Justo o certo e o errado

Um

No vai e vem frenético

igual produto na esteira

não se vai a lugar nenhum

Só mais um mais um mais um

 

E assim se nasce e se cresce

Ama odeia vive e segue

zum zum zum zum zum zum zum zum

Se antes já soubesse 

não me preocuparia tanto

aceitaria por enquanto

ser só mais um

Igual a todos

Iguais ao um ao inverso

formando um universo

Amanhecer

Logo cedo a passarada 

me chama: acorda, vem!

É uma orquestra improvisada

que sempre soa bem

 

Levanto escutando 

a cantoria faceira

e o café vai passando

cheiroso na cafeteira

 

Meu olhar se esgueira

e me pego sorrindo

para a janela que clareia

 

É o filme mais lindo

ao som que alardeia

que o sol já vem vindo

Voar

Se eu pudesse dar um grande salto, queria voar

mas me ensinaram a caminhar 

Eu obedeço, vou respeitar

Mas cresço e caminho sem parar

Quem me vê gosta disso

Me segue, muda, assume o risco

Virei líder sem querer

E quando pude perceber

Todos tínhamos asas

Genialidade

A genialidade é rara?

Sim, e bem corajosa

Pois cospe na cara

da limitação odiosa

 

Criatividade mal-educada

mete o pé na porta

da tradição estagnada

e a uma vida nova exorta

 

O medo só atrapalha

quem ainda é uma pirralha

Palpita o peito dela

mandando ter cautela

 

O sucesso é aconchegante

como colo da mãe, macio

Ele me leva adiante

preenchendo todo o vazio

Destino

Se o destino chega de repente 

ele tem cara de surpresa

e dá um susto na gente

 

Se chegar virando a mesa

Me protejo num canto

Até passar sua brabeza

 

Se vier trazer encanto

E ternura por completo

Termina todo o pranto

 

Se chegar assim tão quieto

Nem verei quando entrar

Na ponta dos pés, discreto

 

Se vier sem avisar

Que posso fazer?

Enfim, aceitar

Ainda estou vivo

O conforto e a tranquilidade

não me deixam esquecer 

de quem sente dor e saudade

Cama quente e aconchegante

Não me me deixa nem um instante

insolente e indiferente 

pro frio e cansaço de tanta gente

Não se ofuscam meus sentidos

Eu não me fecho sem ouvidos

Eu cumpro algum motivo

Por que ainda estou vivo