Um filho sempre é um presente da vida
Se vier com saúde
É um presente com uma bela embalagem
Se não, amiúde
Ensina que uma vivência bonita
Não vê a miragem
Raiar o dia sorrindo
É para quem tem calor
Fogo e um brilho lindo
E não dá bolas pra dor
Não surpreende que nada
Nem chuva ou temporal
Subtraia-lhe a risada
Nada lhe causa mal
Não fica dando voltas
Se ergue para brilhar
E se ninguém enxergar
Acaso se importa?
Que nada… vai continuar
na jornada do tempo
a sorrir e raiar
Quando menos se espera
A maçã despenca
e a gravidade se revela
E como mágica
a sombra de um longo palito
revela a matemática
para quem não é distraído
E alguém na banheira mergulha
se da conta do espaço
do corpo e da água Eureka!
sai depressa e nem se seca
Para provar que a onda é partícula
e vice-versa
constrói o acelerador
Mas já ouvimos essa conversa
com quem medita e supera
o prazer e a dor
Falar em mistério
é um eufemismo
Na verdade, fala sério
reconheço que sou bobo e cego
nesse infinito universo
A claridade pálida da lua
Hipnotiza as emoções
Só quando a noite se insinua
Depois que o sol se põe
Então a matéria dura
Se deforma em vultos
E os infantis adultos
Tem medo de sepultura
Gradualmente se impõe a penumbra
Para os ansiosos, tanta pergunta
Outros veneram a arte inédita
Os últimos riscos da luz pretérita
Cantam o mantra geométrico das cores
Enquanto evocam os poéticos amores
Se a vida não pode te nutrir na fonte
absorve tudo até o horizonte
Degusta o parco grão
Disperso pelo chão
Passarinho, ele vai te alimentar
Não percas tempo, não lamentes
Um passarinho não range os dentes
Permite a ti ser leve e voar
pra onde o vento te levar
E talvez de nada lembres
Só o prazer do vento na cara
no céu de imensidão rara
Igual ao vento
que passa por tudo
e segue seu intento
Leve e intenso
raja, desvia, rodopia
dança com os obstáculos
e com o tempo
Potencial furacão
que arrasta tudo
em seu caminho
ou redemoinho
que arranca tudo do chão
Não quer destruição
e sim afagar os rostos
renovar os ares
de qualquer rincão
suave, constante, sem pressão
O grande barato
é se elevar às nuvens
e ver tudo do alto
atravessando o planeta
como se vivesse no espaço
Voar é como ir
para outro mundo
Mas o movimento
não é uma vara de ferro
não vai sempre reto
e sim entrelaça rodopia e dança
Então se diverte
ao cruzar obstáculos
conhecer cada folha das árvores
sustentar as asas dos pássaros
cantar ao lado das janelas
fazer bagunça nas ruelas
Ah, nada fica parado
pelo vento renovado
O ambiente árido eu conheço
Espinhento, resistente
Cresço, lento mas cresço
Rebroto a cada quebrada
Nem preciso deixar semente
Quem toca minhas mãos ásperas
se arrepende
Ninguém entende
Sinto muita lástima
Mas não posso fazer diferente.
Meu espinho fura
Minha seiva cicatriza
Minha folha é dura
Minha flor suaviza
Sou o paradoxo da vida