Medo

 Já tive medo de pesadelos 

aqueles horrendos à noite

inesperados, rápidos aterrorizantes 

como um açoite

Hoje, conheço o inferno e a guerra

e descobri que o monstro das minhas noites 

era eu

 

Já tive medo da vida 

de enfrentar o desconhecido

Hoje tomo qualquer destino 

como bem-vindo

 

Já tive medo da morte

do fim inesperado 

do azar sem sorte

Hoje amo os mortos e os vivos 

são todos meus amigos 

e daqui um tempo… pois é, isso mesmo

 

Já tive medo de doença

mas terminei a sentença 

de sofrimento do corpo

Hoje não temo nenhum pouco 

o destino, sabe, é tão grande

 

Já tive medo de existir sem sentido 

e sem consciência 

Hoje tenho consciência 

de que todos os sentidos 

simplesmente servem à plena existência

Sem medo ou temor

Não temo mais nada na vida

nem dificuldade atrevida

nem depressão funda caída

simplesmente porque já cresci

 

Não temo mais nada na vida

nem a maior felicidade

nem velhice nem mocidade

existo plena sem reservas

 

Não temo mais nada na vida

Nascer, renascer ou dar a luz

Prender, me algemar, Habeas-corpus

Aceito os limites e engrandeço as liberdades

 

Não temo mais nada na vida

Amor puro ou medo do açoite

O dia nasce após a noite

Estou presente a cada instante