A guerra acabou

Certa vez, um menino brincava em um pátio de terra. 

Um velho caminhão. Um cavaleiro sem cavalo. Uma cabeça sem boneca  

 

Então, no seu mundo de fantasia

Viu chegar uma cavalaria

Alinhada e emplumada

Um oficial lhe entregou 

a carta enrolada

 

Sentiu-se uma euforia

O menino tomou a carta

se emocionou e falou:

(com voz embargada)

A guerra acabou!

 

Todos gritavam

Viva! Viva! 

 

Achou o cavaleiro do cavalo

O velho caminhão foi lavado

Encaixou a cabeça na boneca

Penteou seu cabelo

e a colocou para dormir

com o rosto para o lado esquerdo

 

E pensou: 

Deste campo eu não deserdo

E onde tinha as maiores dores

plantou flores

e regou

O peso da guerra e o preço da paz

Dois jovens viajavam lado a lado. No meio da viagem, conversando, descobriram que pensavam de maneira diametralmente oposta sobre o mundo Chegando ao final da viagem, se despediram, mas decidiram manter o contato e ver qual dos dois chegaria melhor ao final da vida e, assim, aquele que estivesse melhor demonstraria através dos próprios fatos que estava com a razão. Um terceiro, que ouvia a conversa e achou a ideia muito boa, se dispôs a avaliar no final.

Um deles amava a paz e evitava todo conflito. Ao perceber dissonâncias num ambiente, cuidava ao máximo para não se envolver em nada. Quando tinha oportunidade, tentava atuar de maneira conciliatória, mas muitas vezes suas opiniões nem eram ouvidas.

O outro não suportava algumas coisas que considerava muito erradas. Ao contrário do primeiro, se posicionava e se envolvia fortemente em muitas questões. Apesar de seus esforços para efetivamente apresentar soluções, muitas vezes suas opiniões, igualmente,  não eram ouvidas.

O primeiro desistiu de falar e silenciou. O segundo desistiu de falar e lutou.

No final da vida, os três se reuniram. O primeiro disse: 

– Me sinto triste e sozinho, passei a me sentir indiferente e não criei nada de importante, mas estou leve e tranquilo. 

O segundo disse: 

– Passei por cima de algumas pessoas no caminho, foi pesado e estou todo esfolado, mas consegui várias coisas pelas quais lutei, tenho vários amigos, isso tudo me dá satisfação. 

O terceiro disse: 

– Bem, então o vencedor fui eu. 

– Como assim? Disseram os outros dois.

– É que com o tempo eu consegui ouvir e entender a todos. E entendi que, de alguma maneira, cada um tinha um pouco de razão, mas na maioria das vezes, eu não conseguia fazer com que cada um entendesse o outro.

Os dois primeiros perguntaram: 

– Mas você silenciou ou lutou? E se lutou, de que lado? 

– Eu silenciei às vezes, outras vezes falei. Quando ficou pesado demais, humildemente larguei. Quando o motivo me parecia justo, corajosamente lutei. Acabei até mudando de lado, sem nunca ter certeza do que era melhor. No fundo, o que eu fiz não fez muita diferença. 

– Se não fez diferença, você também não deveria ser o vencedor.

Por fim, os três concluíram que a guerra tem peso e a paz tem um preço. E que a primeira ação deve ser a boa disposição para a comunicação.

Na guerra

Na guerra encontro o horror

e na noite o pavor

e raiva e a dor

Não estou só

em cada olhar

de medo ou ódio

o primitivo do humano

insano

E eu sem pensar

nem julgar 

Intuo por onde passar

para onde ir

Sem lutar

e sem fugir

Num instante passa a vida inteira

medo delirante, estou na fronteira

sigo em frente proativo

Estouro, grito, fogueira

e o coração ofegante

no peito oprimido

ainda se expande

e sussurra: estou vivo!!

Guerra e Deus?

Fui soldado, matei muitos e meus amigos tombaram. Eu, porém, continuo de pé – não sei por que. Sempre acreditei em Deus, mas vi tanta coisa na guerra… Não rezei mais, não sei se Deus existe. Mas hoje de manhã foi incrível… minha cachorra deu à luz três filhotes lindos e adoráveis. Neste momento, quando olho para eles, sinto que existe algo divino no mundo. Se só houvesse paz e amor no mundo, eu não questionaria sobre Deus. Agora me passou pela cabeça que talvez a guerra seja um parto sofrido e sangrento. Que ideia! O que de bom pode estar nascendo? Se eu pudesse ver o futuro, eu seria tão inteligente quanto Deus.

Guerra

Imagem de pngegg.com

Ele lutou como um homem, como só um bravo homem lutaria. Por seu país, por seus colegas, vestiu e honrou a farda militar. Foi o que me disse o comandante, um dos poucos sobreviventes do batalhão. Agradeci a condecoração e me retirei, sem cerimônia. Então senti que estava sendo seguido. Quando olhei para trás, vi o batalhão, quase completo, todos caminhavam em minha direção me olhando. Paralisei. Dentre tantos, o reconheci, ele continuou caminhando, parou na minha frente e entregou-me uma folha de papel. “Por favor, entregue para ela”. Prometi que entregaria. Estava escrito: Sinto muito… Quero que saiba que estou bem, junto de meus companheiros. Gostei do nome que você escolheu, cuide bem do nosso pequenino. Te amo.