Um jovem queria se tornar um grande cavaleiro, desses que tem armadura e espada e vencem grandes batalhas. Saiu de casa montando seu cavalo e seguiu os cavaleiros que iam para uma missão. Os cavaleiros explicaram que estavam indo para o centro de treinamento de cavaleiros, numa cidade distante. O jovem poderia ir junto com eles, mas teria que fazer algumas provas. Se ele passasse nas provas, ele seria admitido como um cavaleiro e poderia ficar com eles para fazer o treinamento.
Eles precisavam passar por uma pequena cidade que ficava distante. Todos os cavaleiros tinham armadura e espada, mas o jovem foi apenas com suas roupas do corpo e seu cavalo. Andaram dias e dias e o jovem já estava se sentindo muito cansado, qando chegaram a uma pequena cidade. No dia anterior, houve uma grande enchente e a ponte da entrada da cidade estava destruída, foi levada pelas águas. Então os cavaleiros, na beira do rio, não tiveram dúvida: despiram suas armaduras e largaram as espadas, amarraram seus cavalos para pastarem a grama verde do local e se lançaram no rio, atravessando o rio nadando contra a correnteza. O líder foi o primeiro cavaleiro que pulou, e o último, foi o cavaleiro ancião. Antes de o ancião pular, ele olhou para o jovem e percebeu que o jovem estava com medo. Então, tirou do bolso um balão vazio, uma simples bexiga de festa de aniversário e, sem dizer nada, entregou ao jovem. Então o ancião se virou e seguiu atravessando o rio a nado.
O jovem se viu sozinho com aquele balão na mão. Pensou um pouco, encheu o balão de ar, segurou o balão com os dentes e entrou no rio. Ele sabia nadar um pouco, mas não muito bem. Nadou forte contra a correnteza e conseguiu chegar ao outro lado do rio. Toda vez que ele ficava cansado demais e começava a afundar, o balão, firme entre seus dentes, mantinha sua cabeça para fora da água.
Chegando do outro lado do rio, todos os cavaleiros estavam olhando para ele e festejaram quando ele saiu da água. Ele ficou surpreso e contente com a recepção calorosa. O ancião se aproximou dele e disse: “muito bem meu jovem, você soube usar seu corpo com coragem e sua mente com habilidade”. O cavaleiro líder então disse: “Você está preparado para lançar seu corpo às lutas da vida de cavaleiro! E por isso vai receber uma proteção importante, você vai receber uma armadura.”
Todos os cavaleiros foram então recebidos com festa nas ruas da cidade, eles eram muito conhecidos. O líder designou um cavaleiro para que se dirigisse ao artesão da cidade em encomendasse logo uma armadura para o jovem. O cavaleiro voltou dizendo que a armadura levaria três dias para ficar pronta. O líder disse: Ótimo! Durante esses três dias então, teremos tempo de ajudar os moradores a reconstruir a ponte!
Trabalharam duro durante três dias. Quando terminaram, a armadura já tinha ficado pronta. E assim foram embora, agora atravessando a ponte. Agora o jovem tinha não apenas seu cavalo, mas também uma armadura. E havia guardado no seu bolso o balão esvaziado, quase inteiro.
Seguiram pela estrada até a próxima cidade.
Chegando já noite na cidade, dormiram numa pousada. No meio da noite, o cavaleiro escutou seu cavalo relinchando. Todos estavam dormindo, mas ele sabia que aquele relincho era do seu cavalo, ele conhecia muito bem seu grande amigo. Olhou com cuidado pela janela, sem acender a luz, e viu um ladrão tentando desamarrar seu cavalo. Então ele foi até a cozinha, pegou uma faca, vestiu rápido sua armadura, pegou o balão e saiu pelos fundos, rápido e silencioso. Caminhou bem junto da casa para não ser visto. Então parou do lado de um lampião que estava do lado de fora, colocou sua mão segurando a faca do lado do lampião, fazendo projetar uma grande sombra no chão, bem no caminho do ladrão, que já havia desamarrado o cavalo e ia caminhando, puxando-o consigo. E gritou com toda a força, fazendo uma voz bem grave:
– Pare aí seu ladrão, veja o tamanho da minha espada! Tenho também explosivos!
E bum! Estourou o balão e sem nem parar de gritar, completou:
– Largue o cavalo e fuja enquanto é tempo, ou lute comigo!
O ladrão tomou um susto! Largou o cavalo e saiu correndo.
O jovem foi lá, pegou seu cavalo, amarrou de volta no estábulo, entrou na casa, foi até a cozinha e guardou a faca. Despiu a armadura e dormiu. O que o jovem não sabia é que o cavaleiro ancião também tinha acordado com o relincho do cavalo e assistiu tudo pela janela.
Então de manhã, quando todos tomavam o café da manhã, o cavaleiro ancião contou aos demais cavaleiros o que havia acontecido e, olhando para o jovem, disse:
– Você foi muito inteligente quando fez uma simples faca parecer, na sombra, uma grande espada; foi corajoso ao gritar forte e ameaçar o ladrão; também foi prudente, se mantendo escondido.
O jovem sentiu-se reconhecido, estava muito contente. O ancião continuou.
– Justamente por saber equilibrar a coragem com a cautela e a inteligência, mostrou que está pronto para receber a arma dos cavaleiros.
E o cavaleiro líder levantou-se e lhe entregou uma espada.
– Parabéns meu jovem! Mas lembre-se: ao empunhar a espada, lembre dos três pilares: a coragem, a prudência e a inteligência.
O jovem segurou a espada com emoção e sentiu-se muito vaidoso. Agora ele já tinha armadura e espada, já era praticamente um cavaleiro! Sentia-se parte do grupo, igual a todos os outros. Passou a se sentir um promissor cavaleiro, começou a acreditar que era questão de tempo para se tornar um dos maiores cavaleiros de todos os tempos! Não conseguia esconder sua vaidade, e não percebeu que todos os cavaleiros estavam o observando cuidadosamente…
Saíram para a estrada, rumo à cidade onde ficava o centro de treinamento. O jovem já estava perguntando como era o treinamento, quantos dias ficariam lá, certo de que passaria pelas provas.
Mas antes de chegar ao final da viagem, os cavaleiros conversaram entre si, sem o jovem perceber, e decidiram aplicar-lhe um último teste.
Já próximo da cidade, no final da tarde, decidiram dormir ao relento naquela noite e seguir viagem só de manhã. O jovem, que nunca emitiu opinião antes, tomou a liberdade de questionar o motivo dessa decisão, mas apenas disseram que já era muito tarde… Ele achou estranho, pois ainda havia sol. Mas viu que não adiantaria tentar convencê-los a seguir, eles estavam decididos a acampar.
Então, conforme já haviam combinado, todos os cavaleiros levantaram, silenciosamente, pegaram seus cavalos e seguiram viagem, deixando o jovem dormindo sozinho, recostado à sua mochila. Só o ancião ficou recostado atrás de uma árvore, e deixou seu cavalo escondido entre algumas árvores um pouco adiante.
Quando o jovem acordou já havia clareado o dia, mas ele não viu mais ninguém. Achou estranho, pensou: agora que sou um deles, eles esqueceram de mim? E o pior é que ele nem sabia o caminho para chegar até o centro de treinamento. Vai ver, não queriam que ele fosse…
Se sentiu traído, esquecido, sem importância. Só viu o seu cavalo pastando ao lado. Foi até o seu cavalo, lhe fez um afago carinhoso, ofereceu-lhe um maço de capim fresco. Calmamente buscou sua mochila com sua armadura e espada e já ia subir no cavalo para, quem sabe, seguir a estrada e tentar encontrar os cavaleiros, pedir que lhe permitam fazer a prova no centro… quando viu o ancião se aproximando.
– Parabéns meu jovem! Num momento de solidão e dor, você não se entregou à tristeza nem demonstrou revolta. Você foi maior que a sua dor, voltou-se para o seu grande companheiro de jornada – seu cavalo! – e retribuiu-lhe a amizade e confiança com carinho e capim fresco. Um cavaleiro sozinho não pode ir longe. Nos momentos difíceis, o mais importante é a calma e a confiança dos amigos! Você mostrou que está pronto para ser um cavaleiro, e aqui está seu grande prêmio.
O ancião tirou do bolso um velho livro bastante usado.
– Este livro resume toda a grande sabedoria dos cavaleiros. Pode ficar com você, eu já decorei o livro todo. Você deve ler um pouco todos os dias e, ao final da vida, terá absorvido a sabedoria e nobreza dos cavaleiros.
O jovem tomou o livro e agradeceu. Dessa vez, não ficou envaidecido, nem envergonhado de ter sido deixado para trás. Apenas entendeu que se tratava de uma lição – uma de muitas que ainda virão.
Guardou cuidadosamente o livro na sua mochila e ambos, o jovem e o ancião, subiram nos seus cavalos e seguiram rumo ao centro de treinamento de cavaleiros.