Na pandemia

Era uma vez um jovem que gostava de fazer muitas coisas 

e tinha que fazer muitas outras de que não gostava

O tempo foi passando, se tornou um adulto

que gostava de fazer algumas coisas mas não tinha tempo

pois precisava fazer outras

Porém, sempre ficava sonhando que realizava

sentindo na sua fantasia a amplitude e realização 

que o dia a dia limitava em vão

Assumiu mais compromissos para, claro

se estruturar e poder então se realizar

Os compromissos tomaram tanto tempo e dinheiro! 

Não dava mais nem tempo de imaginar

Agora não tinha mais amplitude, só obrigações

Esqueceu dos sonhos

a mente aprendeu a só raciocinar

Estava no auge da vida

nunca esteve tão estruturado

e tão limitado 

Então um dia… 

pareceu que deu tudo errado

Doença, surto, crise, pandemia… 

o que você imaginar, isso mesmo

tudo da noite para o dia

A estrutura parecia que caía. 

Desilusão, sofrimento… 

Ele não era mais nada nesse momento

E começou a sobrar tempo

lembrou de velhos sonhos

Recomeçar? Boa ideia. 

Reduziu os pesos

abandonou as vaidades

quanta perda de tempo! 

Reencontrou vivacidade

Os antigos sonhos não se realizaram

mas os adaptou à realidade 

e esta os abraçou

O ser humano é tão versátil 

O mundo comporta tanto enredo

Realizou-se, foi agradável

não sonhou mais em segredo

No fundo da violência

Eu me descontrolo, enfureço, perco o controle sobre mim

Não me conheço, humano ou monstro?

Amo tanto a todos, mas quando me perco, o monstro… 

Não quero fazer mal, mas não basta o querer 

tenho medo do que possa acontecer

 

Eu não sou malvado 

Donde vem esse castigo?

Eu sei que é bem antigo 

pudesse voltar para o passado 

consertar o quebrado 

reviver quem foi morto 

reescrever o destino torto

 

Espelho da minha vida 

vou curar essa ferida 

olhar toda a dor e desgosto 

Não é uma criança pequenina 

quem encara a força da vida

e sim o adulto poderoso

 

Eu vejo o sangue derramado 

lá no desconhecido passado 

ensandecendo meus neurônios 

Respiro no meu coração 

peço perdão 

sem esperar ser perdoado

só me revelo envergonhado

mas não posso mudar o passado

 

E agora entendo com clareza 

a raiva é a fraqueza 

de quem se sente miudinho

com uma dor maior que tudo

jogando sobre o mundo 

o que não pode carregar sozinho

 

Assim a violência chegou aqui 

mas não vai mais prosseguir

E a dor pode terminar 

porque eu posso renunciar 

E escolher viver e renovar

Vida é experiência infinita 

laboratório a céu aberto

 

Agora escolho

o amor eu professo

e me alegro pacificado

vibro com o sucesso 

não importa de que lado 

a todos acolho

de modo indiscriminado 

 

Cabe a vida inteira 

num dia consagrado

pelo peso de um fato 

que atravessa séculos 

quase intacto 

Até que é renovado 

em nova geometria do bem

antes impossível 

inimaginável 

É quando o ser

mais e mais amável 

na benevolência tem 

boa companhia

 

Estar inteiro na vida

é deixar ir o que foi um dia

e deixar vir o que não veio ainda

Sair do casulo

Me despeço

quebro algo em pedaços

e o que sobra

sem o peso de antes

parece frágil

mas também é leve

 

Despedida olhando pra trás

é trapaça

Apenas choro e vou adiante

sem me apegar

deixo passar

somente

 

Cada momento é docemente doído

como a borboleta que sai do casulo

e suas asas ainda não batem

É preciso esperar

Quero escrever recomeçar

mas não sei quando rimar

Deixo a dor para trás

Como um vulcão no peito

a pressão me oprime

tanta dor e tragédia revive 

na minha carne impressa

pela dor, temor e pressa

para sair de tudo e deixar

o que é pesado demais

para suportar

 

Um passado grudento apegado

Fica pra trás, tu já tá passado!

Fico até meio irritado 

E quando, exausto e brabo

resolvo com força esquecer

Daí que o d3/0%!º&* gruda pra valer  

 

Desisto 

de me livrar de você

 

Mas não vou morrer

sem te olhar

sem te dominar

fera dos meus pesadelos

força que suga minha seiva

 

e ao tocar com a ponta dos dedos 

no ódio e no medo

me embarga 

uma dor e uma lágrima

 

Nessa água emocionada

vejo teu grande desejo de ser 

melhor do que foi

e deixar descansar o que dói

 

A morte lenta da tua dor

que meu olhar contempla 

com fervor

é inexorável

e desejável.

 

Deixo tua dor dormir

E levo tua vida ao porvir

 

Ao pouco que resta 

dou as mãos pela fresta

Até deixar tudo sumir

 

Tudo silencia

Só a minha resistência

ainda me prende aqui

 

Agora se evidencia

na minha própria experiência

que tudo precisa partir

Não adianta resistir

 

E agora o que fazer? 

Respiro fundo 

e olho no mundo

o simples sol nascer.

Volta por cima

Nossa casa já estava quase pronta

quando descobri a ingrata traição

Família, filhos, sonhos de tal monta

que emagreci, adoeci, fiquei sem chão

 

Desde a infância não era a preferida

Eu disfarçava a tristeza, o sofrer

Com ele me senti amada e querida

Veio a desilusão… viver ou morrer?

 

É indescritível a dor que eu passei

suportando, aos poucos superando

E decidi viver, enfim me amei

 

Hoje sou quem sou, sempre inovando

um maravilhoso amor encontrei

Estou radiante, feliz e amando

Tua apatia

Você estende uma mão para mim

E a outra, para a apatia

Você dá um passo pra vida

E depois para, estanca, assim.

 

E paralisa e segura em mim

E perde o tempo, a pressa

O que é que tanto pesa?

 

Ok, sem essa.

Te estendo a mão 

mas sigo adiante

 

Você vem?

Se sim, fico radiante

senão, passar bem.

Memórias e reflexões

Primeiro eu me revoltei

Eu via tanta coisa errada

Depois que vi que é uma furada

Eu não estava mudando nada

 

tudo o que eu podia ter sido 

e nunca fui

Eu não sabia pra onde ir

Comecei a aceitar, aos poucos

mas a impotência, um sufoco

 

E quanto mais relativizava

o niilismo se implantava

O vazio é pior que a dor

Às vezes se sobrevive 

um dia de cada vez

 

Demorou e aos poucos voltei 

a sentir tristeza – que seja

e diferente ressuscitei

já havia alguma leveza

 

O mundo é maior que eu

o amanhã virá numa bandeja

servido de presente

eu esteja ou não esteja

 

Então decidi, decisão total

Não serei herói, só uma vida normal 

E construí uma vida tão linda 

que não tinha imaginado ainda

 

Estudo, casamento, trabalho

inovação, movimento, vida ágil

e com o filho as brincadeiras fartas

 

Então o castelo de baralho

percebi que era frágil 

e assoprei algumas cartas

 

Construo novamente

algo um pouco diferente

Porque estar no mundo

é algo tão profundo

quero viver totalmente