Fome

Fome

não tem nome

talvez nem dente

Indigente

lhe dói o abdome

na espera urgente

do nutriente

Conhece os ratos da rua

Enxerga as fases da lua 

Quanta dor a sua…

Ao lembrar do rio da infância

onde pescava em abundância

E da árvore gigante

onde colhia bastante

fruta bem madura

Hoje

acabou a ternura

o rio polui

a árvore caiu

O olhar petrificado

só tem cinza na paisagem

Mas ainda vê a miragem

verde, mata selvagem

água limpa, o fundo exposto

belezas pra todo gosto

E as águas deslizam

e suavizam

o velho rosto

Refugiado

Sem terra, segurança ou paz

fugiu, lutou, sobreviveu

sozinho ou junto aos seus

 

Nunca deixou de pensar 

nos que ficaram para trás 

 

Memórias, medos e dores

como a dor da fome

que consome

a chance de sonhar

 

Com o raciocínio aguçado

olhar de presa ou caçador

modo sobrevivência ativado

vive o corajoso lutador