Fome

Fome

não tem nome

talvez nem dente

Indigente

lhe dói o abdome

na espera urgente

do nutriente

Conhece os ratos da rua

Enxerga as fases da lua 

Quanta dor a sua…

Ao lembrar do rio da infância

onde pescava em abundância

E da árvore gigante

onde colhia bastante

fruta bem madura

Hoje

acabou a ternura

o rio polui

a árvore caiu

O olhar petrificado

só tem cinza na paisagem

Mas ainda vê a miragem

verde, mata selvagem

água limpa, o fundo exposto

belezas pra todo gosto

E as águas deslizam

e suavizam

o velho rosto

Parede riscada

A parede riscada

ri com a criançada

Sujou? Que nada!

É a parte viva da casa

A mancha de slime

que nunca mais sai

é um portal vibrante

para a infância, o instante

de alegria plena

Olha, escuta: Mãe! Pai!

Vem brincar, vai!

E a razão serena

do adulto responde

Claro, vale a pena!

Quem é que se esconde?

Pais que trabalham

O dia  passa rápido demais

Trabalho compromissado

E de noite somos pais

Mas como estou cansado

 

Mãe mãe mãe

Não quero tomar banho!

Pai vem brincar

Não quero dormir!

 

Quero amor da mãe e do pai

Quero que me olhem sorrindo

Quero vê-los alegres e felizes

Meus pais se divertindo

 

Ter filho não é brincar de boneca

Antes de tudo é total entrega

É abrir um caminho

do coração do filho

até o nosso

O olhar atento 

demanda tempo

Chegar à alma 

exige calma

Mãe acordei!

Mãe acordei! 

e assim começa o dia 

cheio de energia 

Mãe, tô com fome! 

E come, come

 

Mãe, vamos brincar! 

mas eu tenho que trabalhar 

e a gente brinca 

E a mãe se vira, se vira

 

Pai, vamos jogar!

Sim mas só meia hora

Depois eu vou trabalhar

E o pai se vira, se vira

 

Ei, vamos passear!

Estou fazendo o serviço

Tem rebuliço, mas olho o filho

e decido aceitar

 

Depois voltamos e a gente senta

Ufa, 10 minutos para descansar 

Mãe, pai, vamos brincar! 

Aff acho que vou desmaiar…

Sim, vamos lá! A gente brinca 

e se vira, e se vira

Creme de chocolate

Leite, leite condensado e cacau

Creme adoçado de chocolate

Essa bebida quente era normal

lá na casa da mãe, hum, saudade

 

Hoje meu filho fica esperando

preparo a mesma velha receita

Mãe faz rápido tá demorando!

Espere, que vai ficar perfeita

 

Aconchego é esse cheiro gostoso

no vapor daquela panelinha 

Com sabor encorpado e cremoso

 

Então ele come na cozinha 

Nutrido de cuidado amoroso

Sorriso e lambuzo na carinha

Tempero caseiro

O feijão bem cozido 

na panela no fogão 

faz crescer o menino 

com saúde, fortão

 

a comida caseira

traz o colo da mãe 

a infância aventureira

domingo na vó

 

De tarde na grama

o jogo livre de bola

 de noite o pijama 

e uma saída pra rua 

 

pela porta 

para olhar a lua

que o imenso céu comporta

Depois, boa noite para quem se ama

Brincar com as crianças

Brincar com as crianças

Pura entrega

Cansa e recarrega

É como dar à luz de novo

Os olhinhos que brilham

Risadinhas marotas

Gritinhos de alegria

“Você não me pega”

“Ah, você é tão rápido”

“Como se esconde bem!”

O olhar, a escuta, o estímulo

E corro! O quanto a idade 

e o sedentarismo

me permitem

Estou envelhecendo? 

Tenho problemas?

De que importa!

A vida é grandiosa

E anda para frente 

Vejo a vida brilhar 

Na alegria deles

Deixar semente

A semente não questiona

não reclama não reluta

enraíza e labuta

na terra fofa ou pedra bruta

Toda energia na vida

que se procria infinita

em condição macia

vira planta bonita

Mas na paisagem crua

mal veste terra nua

de aridez indecente 

onde luta, sofre e sua

para deixar nova semente