A guerra acabou

Certa vez, um menino brincava em um pátio de terra. 

Um velho caminhão. Um cavaleiro sem cavalo. Uma cabeça sem boneca  

 

Então, no seu mundo de fantasia

Viu chegar uma cavalaria

Alinhada e emplumada

Um oficial lhe entregou 

a carta enrolada

 

Sentiu-se uma euforia

O menino tomou a carta

se emocionou e falou:

(com voz embargada)

A guerra acabou!

 

Todos gritavam

Viva! Viva! 

 

Achou o cavaleiro do cavalo

O velho caminhão foi lavado

Encaixou a cabeça na boneca

Penteou seu cabelo

e a colocou para dormir

com o rosto para o lado esquerdo

 

E pensou: 

Deste campo eu não deserdo

E onde tinha as maiores dores

plantou flores

e regou

Na guerra

Na guerra encontro o horror

e na noite o pavor

e raiva e a dor

Não estou só

em cada olhar

de medo ou ódio

o primitivo do humano

insano

E eu sem pensar

nem julgar 

Intuo por onde passar

para onde ir

Sem lutar

e sem fugir

Num instante passa a vida inteira

medo delirante, estou na fronteira

sigo em frente proativo

Estouro, grito, fogueira

e o coração ofegante

no peito oprimido

ainda se expande

e sussurra: estou vivo!!