Traquina

Experimento a cada dia

breve e leve euforia 

quando só tenho alegria 

e todo contentamento

 

Rima leve e escorreita 

escrita sem receita 

no momento que me espreita 

um firmamento sonolento  

 

Longe de ser perfeita 

falo tudo que eu quero

ah que amanhecer belo 

 

Ideia é um presente

que tanto inspira a gente 

nessa vida cogente 

 

não encaixo na máquina 

que me aperta e tritura 

pois me quebra a postura

então virei traquina

 

Imprudente? 

Certamente!

Mas não indiferente

à magia de renascer

e viver alegremente

Mergulhar

Não sei ficar boiando

Gosto de mergulhar

Não sei pegar leve

E mesmo que pese

me jogo no mundo

como um moribundo

 

E se eu morresse hoje?

Não fiz nada! Ojeriza

de mim mesma

Lerda que nem lesma

Dei tanto tempo a tudo

que não interessa

 

Só nadei com pressa

e sem rumo 

Agora afundo

mas no prumo

até que o oxigênio deixe

Ou uso equipamento de mergulho

Ou aprendo a respirar como peixe

Construí um império

Eu construí um império

Com muito sucesso

Resido num paraíso

Tenho tudo em abundância

Satisfação, orgulho e ganância

 

Minha construção é vazia

meu trabalho é sem sentido

Ganho bem pra prejudicar 

quem não é meu amigo

e nem inimigo

 

Eu sorrindo sabendo

que quem sorri pra mim 

está sofrendo

Todo mundo mantendo

aparências sem fim

 

Sucumbi ao peso 

do que construí

O que vou legar?

Algo pra carregar?

 

Chega, parei aqui.

Isso vai ter fim.

 

Vou mudar o império

Isso é sério

Porque de velho

basta eu pra ranzinzar

 

Quem inova se arrisca

a andar numa pista

que se avista no ar

Como a águia

Como águia

voo pro alto

o olhar agudo

vê de assalto

 

Como águia

busco a caça

levo pro ninho

amor e graça

 

Como águia

à meia idade

o ninho vazio

maturidade

 

Como a águia

sei cuidar e caçar

sei quando voar

e a hora de pousar

No fundo da violência

Eu me descontrolo, enfureço, perco o controle sobre mim

Não me conheço, humano ou monstro?

Amo tanto a todos, mas quando me perco, o monstro… 

Não quero fazer mal, mas não basta o querer 

tenho medo do que possa acontecer

 

Eu não sou malvado 

Donde vem esse castigo?

Eu sei que é bem antigo 

pudesse voltar para o passado 

consertar o quebrado 

reviver quem foi morto 

reescrever o destino torto

 

Espelho da minha vida 

vou curar essa ferida 

olhar toda a dor e desgosto 

Não é uma criança pequenina 

quem encara a força da vida

e sim o adulto poderoso

 

Eu vejo o sangue derramado 

lá no desconhecido passado 

ensandecendo meus neurônios 

Respiro no meu coração 

peço perdão 

sem esperar ser perdoado

só me revelo envergonhado

mas não posso mudar o passado

 

E agora entendo com clareza 

a raiva é a fraqueza 

de quem se sente miudinho

com uma dor maior que tudo

jogando sobre o mundo 

o que não pode carregar sozinho

 

Assim a violência chegou aqui 

mas não vai mais prosseguir

E a dor pode terminar 

porque eu posso renunciar 

E escolher viver e renovar

Vida é experiência infinita 

laboratório a céu aberto

 

Agora escolho

o amor eu professo

e me alegro pacificado

vibro com o sucesso 

não importa de que lado 

a todos acolho

de modo indiscriminado 

 

Cabe a vida inteira 

num dia consagrado

pelo peso de um fato 

que atravessa séculos 

quase intacto 

Até que é renovado 

em nova geometria do bem

antes impossível 

inimaginável 

É quando o ser

mais e mais amável 

na benevolência tem 

boa companhia

 

Estar inteiro na vida

é deixar ir o que foi um dia

e deixar vir o que não veio ainda

Minha insensatez

De que vale minha ignorante expectativa

teimosa, a vida toma rumo próprio 

 

perda, dor, desamor, divórcio

são desafios, amiga.

 

Por um lado, estou perdida

mas encontro saída

da minha insensatez

 

Mergulho na vida

sim, é ampla e bonita

quando se tem lucidez

Águas revoltas

Eu vim pra navegar águas revoltas

Não entendo, não descanso

Tanta coisa acontecendo

Um ajuda, outro morre, 

ou se muda

E a água me afunda

Sem reação

sufocado

Torno a pegar o bote

Pra de novo ser levado

Água, água em todo lado

Quando alguém me dá mão

Agarro com força

 

Não deixe a água te levar

Fica mais um pouco

Vem aprender a nadar

Saia do sufoco!

Ai, isso é passado

Ai, aí está o teu amor

é grande teu fantasma

ele deslumbra em horror

e sufoca como asma

 

Você respira fundo

cresce mais que o mundo

Manipula tudo

Pra ninguém te desprezar

 

Ai, aí está tua dor

sobrevive em torpor

medo de não aguentar

olhando duramente

pro alto e pra frente

não vê o que sente

 

No lugar indecente

que não te pertence

no passado se perdeu

repetindo o velho clichê

 

Ai, entendo, é assim…

Esse apego prendeu você

que sem querer disse sim