Vem comigo

Me sinto tão grande

Mas impotente

Se eu me tornar pequeno

Talvez alguém me acalente

 

Ah, eu desisto

Eu não sou visto

Essa dor é latente

 

Só quero ser gente

Me voltar mais uma vez

e naquela voz quente

ouvir “meu querido”

 

E sem nenhum ruído

responder contente

“vem comigo”

E seguirmos em frente

Jornada imprevisível

Uma grande jornada começa

Me desprendo, inconsciente

desligo, desapego

Então não sei o que acontece

não consigo evitar

é só me entregar

Mesmo que não quisesse

sou derrubada e levada

na grande jornada

não posso controlar

 

Imprevisível

É sempre assim  

Incrível

nessa mesma hora 

que vou deitar cansada

Boa noite

O tempo

Se o tempo fosse uma estrada

eu poderia ficar parada?

 

Se o tempo girasse como bola

Eu poderia cair fora?

 

Se o tempo tivesse lugar marcado

Eu sentaria no passado

E assistiria o futuro da arquibancada

 

Mas o tempo não é nada

troslagem bem armada

 

Uma vida pode durar um dia

Tem dia que demora uma vida

 

Se eu vivesse o profundo da vida em um dia

Não me importaria com a despedida

Emoções

O desprezo convencido se acha

O nojo rejeita, rejeita, rejeita

O medo ingênuo acredita na segurança

A saudade repinta o que ela lembra

A raiva rosna acuada

A frieza só quer calor humano

O stress não dá folga mesmo

A euforia agita e não contempla

A nostalgia fica boiando na piscina

A tristeza pensa que tem beleza

A dor é poderosa, essa sim quebra qualquer um

Passado iminente

A revolta me consome

injustiça tem nome

Isso é desumanidade

a esperança foge e some

 

E sigo como um louco

um dia em cima do outro

o tempo como um tiro

matando pouco a pouco

 

Com o passado lado a lado

Estou tão cansado

há uma luz no fim do túnel 

Mas ficar aqui cercado?

 

Então sou tomado

pelo fim consumado 

do passado iminente

e arrisco ver à frente

Pequena grande

Fez-se grande tão pequena

lhe aplaudiram muito

e assim cresceu forte e serena

Foi quando chegou o nenê

E de grande viu-se pequena

ao vê-lo crescer

Pôde então perceber

que só queria ser

a pequena que não pôde

Encaramujou, amiudou-se

Saciou a solidão infante

E depois cresceu até encostar 

a cabeça no céu

e os pés no mar

Vendo os peixes a nadar

o nenê a brincar

e as aves a voar

Destino cumprido

Vida tem cor e textura

movimento, som, diabrura

Do céu e sol ao inverno

Da sanidade à loucura

 

Bagunçado rebuliço

Onde colocar tudo isso?

Algo tem que ser eterno?

Desato esse compromisso

 

Vida tem fim, meio e início

Na contramão tem sentido

Só depois se vê o auspício

 

De cada dia bem vivido

E se libera do hospício

Com o destino cumprido 

Ouço vozes

 

Ouço vozes no meu coração

me chamam a atenção 

me dizem sim ou não

me confundem a razão

 

Se ouço fico louca

Se digo – Ah, coisa pouca

Adoeço de tédio

Na mesmice do mundo

sem remédio

para o absurdo

 

Ouço vozes 

outros, todos 

muitos de mim

 

Escolho qual seguir

Escolho prosseguir

ou desertar

Escolho nutrir

ou abandonar

 

Pago o preço por cada escolha

Isso é certo

Ganho e perco, dou e recebo

De peito aberto

E se não puder escolher

Acolho de coração e mente

abro os braços e sigo em frente