Por quê?

Por que se existe e se vive? 

Quando estarei vivendo

lá onde já estive?

Por aqui ando cega

Eu não sei o que me espera

A minha mente treinada 

é um autômato numa cilada

Onde penumbra a lua

o caminho só se insinua

Sangue

Eu vejo o sangue

Não derramado 

mas bem canalizado

saltando adiante

na badalada do peito

 

jorra até as pontas dos pés

a cada impulso perfeito

hidrata e dá o colorido

é um vermelho bonito

 

Quando se derrame

não seja em vão

apenas a purificação

do útero que acalenta

 

E assim a alma esquenta

gera a nova era

que não espera 

nem teme

contente de ser 

o mesmo sangue 

pra toda gente

pro grande e pro pequeno

do maior mamute 

ao menor rebento

 

Sangue, segue onde te mande

O grande vigor 

que leva a vida adiante

Inexplicável

Sinto que me sustenta

o que intenta

Único e total, 

indiscrimina 

e leva cegamente

por uma linha

cujo fim é inconsciente

e o início ninguém imagina

 

Mas se olho pro lado

Fito algo

De repente tudo some

estou aqui sem nome

 

Paro onde estou e escolho 

Para onde continuar

o céu é o limite do olhar

abarca o sempre, o nunca e o todo

e se abre ao simples contemplar

Gestando poema

Estou preparada

Se de madrugada

Um poema nascer

Vou então receber

De todo o coração

Com sono e o celular na mão

 

Com a paz de uma gestante

Que se entrega ao instante

Sem controlar nada

nem derrotada 

nem triunfante

 

Apenas o momento

No sofá aconchegante

Na dor dilacerante

Ou na paz extasiante

Parindo o que quer nascer

O peso

O peso da pedra gruda no chão 

Em vão tenta rolar pesada

mas se deixa estar amarrada

obra da gravidade em ação

 

Tanto céu, sol, nuvem e emoção

Olha para cima embasbacada

mas não poder fazer nada

só quer romper esse grilhão

 

A pedra vê com amor profundo, 

o sol distante e sua luz macia

ela queria levitar, mais que tudo 

 

Enfim cansado o minério rotundo

Aceita ser pedra e experiencia

o beijo da terra e desse mundo

Conselhos

Alguém seguia seu caminho

sempre em frente e sozinho

até encontrar um velho 

que o parou e deu conselhos

 

Pois bem, sabe andar sozinho

Mas entende de carinho?

Tudo o que já recebeu

Compartilhe um pouquinho

 

Na estrada do ofício

Tome muito cuidado

Com fogos de artifício

Que deixam deslumbrado

 

Na noite sem luz da lua

verá sombras e assombros

é o pavor da noite escura

carregue-a nos ombros

 

Depois, vai raiar o dia

Esteja inteiro pra jornada

É aí que começa a magia

da oportunidade renovada

O laptop

Ela queria sair

Precisava do laptop com certeza

Mas o danado, grudado na mesa

Não podia vir

 

Pegou-o firme na mão

Bem posicionada

Mas que nada

O esforço foi em vão

 

Ficou ali paralisada

Sem entender nada

 

Acordou e lembrou

Ah, o laptop desligou

Como vou escrever?

E agora o que fazer?

 

Sentou e meditou

Quem sabe umas férias?

Ando mesmo tão séria…

 

E decidiu 

Não vou fazer nada

A manhã toda relaxada

Só criar, brincar… e sorriu

A guerra acabou

Certa vez, um menino brincava em um pátio de terra. 

Um velho caminhão. Um cavaleiro sem cavalo. Uma cabeça sem boneca  

 

Então, no seu mundo de fantasia

Viu chegar uma cavalaria

Alinhada e emplumada

Um oficial lhe entregou 

a carta enrolada

 

Sentiu-se uma euforia

O menino tomou a carta

se emocionou e falou:

(com voz embargada)

A guerra acabou!

 

Todos gritavam

Viva! Viva! 

 

Achou o cavaleiro do cavalo

O velho caminhão foi lavado

Encaixou a cabeça na boneca

Penteou seu cabelo

e a colocou para dormir

com o rosto para o lado esquerdo

 

E pensou: 

Deste campo eu não deserdo

E onde tinha as maiores dores

plantou flores

e regou

Processo judicial

O processo nasceu há muito tempo

Encadernado, voava…

e se equilibrava no ar como uma borboleta

bate suas asas

 

Um dia, pousou sobre uma grande mesa

pesada, de madeira

Ali, tinha um tinteiro e uma caneta

onde o processo borboleta

sugou o néctar da tinta inteira

 

Sentindo-se preenchido

voou 

e sem nenhum alarido

na prateleira pousou 

e descansou

 

Por vários anos…

 

Sentindo-se maduro então 

e um pouco velho

alçou vôo novamente 

para seu derradeiro fim

 

Pousou sobre a grande mesa 

repleta de gente

que contente disse sim

e apertaram-se as mãos

Sanação

Palavras de sanação 

A imagem pouco nítida 

toca mais o coração.

 

A palavra não dita

carrega muita emoção

e gera um furacão

 

Aquela mais bonita

vê de frente a maldita

e vem a pacificação

 

No turbilhão 

quem arbitra?

Só há aceitação