Degustar a poesia

Registrar todo tipo de poesia

é um prazer que experimento

um pouquinho a cada dia

 

é como degustar um cafezinho

No ponto, cheiroso, quentinho

Como provar muitos chocolates

 

Poesia barata ou dezoito quilates?

Cafezinho passado ou expresso?

Sempre um novo prazer diverso

Poesia madura

Poesia madura é uma senhora 

de cabelos longos e fortes

De andar encadeado

Que pisa firme e suave

De peito aberto olhando à frente

Expressão alegre sem euforia

Só vive um dia de cada vez

Mas um século à frente vê

Porque carrega toda a história

O que encontra, cativa

Valoriza o milagre da vida

Não tem só isso mas idealiza

Inova busca arrisca

Mas não em demasia

Pois sabe que amanhã 

tem um novo dia

Poesia vazia

Poesia vazia 

Pura rima

Fala fala não diz nada 

É pura marmelada

Maquiagem bem bonita

Água lava, água lava

 

Poesia vazia 

Pura rima 

Bem bonita

Métrica retinha

Vida é curva

Curvelínea

 

Vazia a poesia

Ecoa num buraco

No fundo do poço

Meio que anestesia

O sentido é furado

e oco

As palavras fazem música

Em forma livre ou soneto

internet, cordel, livreto

Um profundo Adagietto

Poema lírico ou concreto

A melodia de um léxico

embala algo completo

O divino e o patético

O remédio e o que é tóxico

Cada encanto e desencanto 

Rima Perfeita ou verso Branco 

seja ela Rica ou Pobre 

cria sempre nova estrofe

Andando Grave ou Allegro

ou num longo ranço Lento

Cada Tempo traz um avanço

Indescritível

Se escolhe tanta palavra

para descrever uma vivência

Para quê? Isso só descalavra

o profundo da experiência

 

O que move é indescritível

Palavrear o indizível

é ficar na banheira leviana

pensando que é a fossa das Marianas

Cavalgada surreal

Havia um homem cavalgando

num cavalo veloz e forte

com longas crinas esvoaçando

O homem olhava à frente

o cavalo seguia contente

o vento refrescava o rosto 

O cavalo saltou um obstáculo

aterrissou com algum esforço 

e retomaram velocidade

O cavalo era alado e começou a voar

o cavaleiro encantado passou a gargalhar

de felicidade e espanto de onde podiam chegar

subiram no ar até pairar

no vácuo espacial

e o cavaleiro que não tinha asas

também pairava no ar!

olhou nos olhos do cavalo

e aproximaram as frontes

até encostar 

Então abriu-se um portal

e o cavaleiro foi pro lado de lá

Viu o passado inteiro

e quis voltar

com medo de ficar

de só repetir e tudo nunca passar

Mas teve que olhar, pisar e tocar

Chegou a chorar

Já não podia evitar

a dor

Mesmo triste

abraçou a muitos

Nem sabia que estava se despedindo

Porque aos poucos tudo foi sumindo

Não podia entender 

e menos ainda explicar

Então no clarão de um amanhecer

Viu seu cavalo o esperando

Disposto e vigoroso

Se preparando para decolar

O cavaleiro sem nem pensar

saltou no lombo

e atravessaram o portal

No vácuo de novo

o cavaleiro estava tonto 

atordoado até se situar

Subiram mais e mais alto

até se distanciar

de tudo o que se pode ver

e pararam num não lugar

Parecia que passaram séculos 

E os dois a brilhar

de suave contentamento

Depois, resolveram voltar

descendo rápido 

até cavalgar pesado 

velozes e fortes

O cavaleiro de sorte

parava pra conversar

com quem ocorresse encontrar

sem nunca pretender ficar

Só sabiam que um cavalo e um cavaleiro

precisam cavalgar

Caminhos

Quando não se sabe para onde ir

há muitos caminhos

dar voltas é uma opção

ir para frente ou para trás 

enfrentar na contramão

ou seguir o fluxo em paz.

 

Com alguma técnica 

talvez até voar

Mas sabe aterrissar?

Isso é importante!

 

Só quem não sabe pra onde ir

Do lugar comum pode sair

Respirar

Cada vez que eu respiro

ainda falta o ar

mas eu suspiro

como é bom respirar

 

Eu adoecendo

tal qual cimento

endurecendo

Pode quebrar

ou respira e se expande

ou vai desabar

 

Tal casa de palha

que quer se passar

por algo que o valha

mas o lobo veio soprar

 

O que parecia não era

o que existia não há mais

O vento forte reitera

deixe tudo pra trás

Então venço essa fera

e sigo em paz