Consertar o mundo

Já sonhei consertar o mundo

Sonhei com o equilibrado e o justo

quis encontrar, no fundo

de cada um o mais nobre

sem muito custo

Já fiz revolução

Já construí amor e perdão

E vi profunda união

na reconciliação

Abracei cada oportunidade

com paz e suavidade

Deixei de lamentar a distância

a frieza ou a maldade

É o que se aprende com a idade

depois que passa a arrogância

Júbilo da palavra

Que alegria saber que uma palavra

Que não foi nada planejada

Brotou no momento acertado

Tocou fundo o peito apertado

 

Motivou decisão

Deu coragem, energia

E amor no coração

Essa é toda magia

 

Palavra despretensiosa

Profundamente amorosa

Olho no olho da compaixão

Humanidade à flor da pele

 

Palavra adiante segue

Pura êxtase jubilosa

Gratidão, gratidão

Se espalha em toda direção

Tagarelice fake

Tagarelice fake barata

dá recompensa imediata

Cara de bacana

vende vaidade 

a preço de banana

Mas na realidade

cria verdade torta

e nem se importa

Só caça recompensa

em mais nada pensa

Se o neon reluzir

vai prosseguir

E quanta emoção derrama

enquanto a mentira engana

Mas, porém, contudo, entretanto

a análise certeira, por encanto

dissolve a fake inteira

Pérola do ar

Não nasceu no fundo do mar

Surgiu sublimada no ar 

Pairando não vive em vão

A suavidade é o seu colchão

 

Entregue à melodia do som

Se dissolve na apreciação

Do arco-íris sinuoso do om

Enviado do céu ao chão

 

Pequena como um grão

Absorve e reflete

Ampliando a imensidão

 

Colorida leve e linda

A nada repete

E na onda é infinda

Por quê?

Por que se existe e se vive? 

Quando estarei vivendo

lá onde já estive?

Por aqui ando cega

Eu não sei o que me espera

A minha mente treinada 

é um autômato numa cilada

Onde penumbra a lua

o caminho só se insinua

Sangue

Eu vejo o sangue

Não derramado 

mas bem canalizado

saltando adiante

na badalada do peito

 

jorra até as pontas dos pés

a cada impulso perfeito

hidrata e dá o colorido

é um vermelho bonito

 

Quando se derrame

não seja em vão

apenas a purificação

do útero que acalenta

 

E assim a alma esquenta

gera a nova era

que não espera 

nem teme

contente de ser 

o mesmo sangue 

pra toda gente

pro grande e pro pequeno

do maior mamute 

ao menor rebento

 

Sangue, segue onde te mande

O grande vigor 

que leva a vida adiante

Inexplicável

Sinto que me sustenta

o que intenta

Único e total, 

indiscrimina 

e leva cegamente

por uma linha

cujo fim é inconsciente

e o início ninguém imagina

 

Mas se olho pro lado

Fito algo

De repente tudo some

estou aqui sem nome

 

Paro onde estou e escolho 

Para onde continuar

o céu é o limite do olhar

abarca o sempre, o nunca e o todo

e se abre ao simples contemplar

Gestando poema

Estou preparada

Se de madrugada

Um poema nascer

Vou então receber

De todo o coração

Com sono e o celular na mão

 

Com a paz de uma gestante

Que se entrega ao instante

Sem controlar nada

nem derrotada 

nem triunfante

 

Apenas o momento

No sofá aconchegante

Na dor dilacerante

Ou na paz extasiante

Parindo o que quer nascer

O peso

O peso da pedra gruda no chão 

Em vão tenta rolar pesada

mas se deixa estar amarrada

obra da gravidade em ação

 

Tanto céu, sol, nuvem e emoção

Olha para cima embasbacada

mas não poder fazer nada

só quer romper esse grilhão

 

A pedra vê com amor profundo, 

o sol distante e sua luz macia

ela queria levitar, mais que tudo 

 

Enfim cansado o minério rotundo

Aceita ser pedra e experiencia

o beijo da terra e desse mundo