A agitação silencia para ouvir o cantar dos pássaros.
Mês: abril 2022
Submeto-me
Tempo
Silêncio
Por via das dúvidas
Por via das dúvidas se chega a Duvidoso. Duvidoso é uma cidadezinha pequena com muitos caminhos. Suas ruazinhas, estreitas e com muitas curvas, levam pra todos os destinos. E sempre é possível escolher um novo rumo, pois as ruelas se entrelaçam, se cruzam e se abraçam, pois temem ficar sozinhas. Os duvidosos vão para todos os lados, perguntando preocupados para onde ir.
Para sair, tem uma única estradinha que leva à cidade vizinha, onde tem um grande pórtico escrito: Bem-vindo a Decidido!! Lá só é possível ir para frente, em grandes avenidas retas e não convergentes. Os decididos são independentes, conversam com pouca gente, ninguém lhes cruza a frente.
Um dia, um inventor que visitava a região, cansado dessa repetição, imaginou a cidade perfeita, e num papel branco desenhou linhas pretas – as avenidas decididas… e pontilhou por cima os volteios duvidosos. Era perfeito! Todos podiam ir para todo lado, com rumos claros à frente, tudo integrado.
Então, como era inteligente, vendeu seu projeto para um grande arquiteto, que construiu a cidade Planejada. Todos preferiram morar lá, a vida ficou criativa e movimentada, e Duvidoso e Decidido viraram museus arquetípicos.
O pai
O tio convenceu a mãe a deixar o menino ir com ele ao parque, com a condição de voltarem em uma hora. Foram de carro para o outro lado da cidade.
Chegaram. Entraram num restaurante simples, com cadeiras velhas e nenhuma decoração. Então caminharam até uma mesa onde havia um homem almoçando:
– Olá, visita pra você!
O homem virou o pescoço e olhou para o menino, para o tio, de novo para o menino, longamente. E falou:
– Como está grande… é parecido comigo.
O tio se despediu e o homem se comprometeu a levar o menino para casa mais tarde.
O homem telefonou para o patrão avisando que nessa tarde não iria trabalhar. Quando o menino disse que a mãe ficaria preocupada, o pai apenas disse: não se preocupe, ela vai ficar bem.
Foram a um parque, conversaram sobre a escola e diversos assuntos. O pai o ajudou a subir em todos os brinquedos e árvores, até as mais altas. Comprou um pastel quando o menino ficou com fome.
No final da tarde, disse que estava na hora de ir pra casa. O menino então tomou coragem e perguntou:
– Pai, por que a mãe diz que você é ruim?
O pai o olhou sério, depois sorriu tranquilamente e disse:
– É uma longa história… mas já passou e você não precisa ter medo de nada.
Quando chegaram em casa, a mãe apareceu na porta e tomou um baita susto. O pai falou, lá do portão de entrada:
– Pode ficar tranquila, aqui só tem dois amigos homens: eu e o nosso filho.
O menino se sentiu muito bem ao ouvir que ele era um “homem”, assim como o pai.
Dali em diante, o menino passou a visitar o pai todas as semanas.