Por via das dúvidas

Por via das dúvidas se chega a Duvidoso. Duvidoso é uma cidadezinha pequena com muitos caminhos. Suas ruazinhas, estreitas e com muitas curvas, levam pra todos os destinos. E sempre é possível escolher um novo rumo, pois as ruelas se entrelaçam, se cruzam e se abraçam, pois temem ficar sozinhas. Os duvidosos vão para todos os lados, perguntando preocupados para onde ir.

Para sair, tem uma única estradinha que leva à cidade vizinha, onde tem um grande pórtico escrito: Bem-vindo a Decidido!! Lá só é possível ir para frente, em grandes avenidas retas e não convergentes. Os decididos são independentes, conversam com pouca gente, ninguém lhes cruza a frente.

Um dia, um inventor que visitava a região, cansado dessa repetição, imaginou a cidade perfeita, e num papel branco desenhou linhas pretas – as avenidas decididas… e pontilhou por cima os volteios duvidosos. Era perfeito! Todos podiam ir para todo lado, com rumos claros à frente, tudo integrado.

Então, como era inteligente, vendeu seu projeto para um grande arquiteto, que construiu a cidade Planejada. Todos preferiram morar lá, a vida ficou criativa e movimentada, e Duvidoso e Decidido viraram museus arquetípicos.

O pai

O tio convenceu a mãe a deixar o menino ir com ele ao parque, com a condição de voltarem em uma hora. Foram de carro para o outro lado da cidade.

Chegaram. Entraram num restaurante simples, com cadeiras velhas e nenhuma decoração. Então caminharam até uma mesa onde havia um homem almoçando: 

– Olá, visita pra você! 

O homem virou o pescoço e olhou para o menino, para o tio, de novo para o menino, longamente. E falou: 

– Como está grande… é parecido comigo.

O tio se despediu e o homem se comprometeu a levar o menino para casa mais tarde. 

O homem telefonou para o patrão avisando que nessa tarde não iria trabalhar. Quando o menino disse que a mãe ficaria preocupada, o pai apenas disse: não se preocupe, ela vai ficar bem.

Foram a um parque, conversaram sobre a escola e diversos assuntos. O pai o ajudou a subir em todos os brinquedos e árvores, até as mais altas. Comprou um pastel quando o menino ficou com fome.

No final da tarde, disse que estava na hora de ir pra casa. O menino então tomou coragem e perguntou: 

– Pai, por que a mãe diz que você é ruim?

O pai o olhou sério, depois sorriu tranquilamente e disse: 

– É uma longa história… mas já passou e você não precisa ter medo de nada.

Quando chegaram em casa, a mãe apareceu na porta e tomou um baita susto. O pai falou, lá do portão de entrada: 

– Pode ficar tranquila, aqui só tem dois amigos homens: eu e o nosso filho.

O menino se sentiu muito bem ao ouvir que ele era um “homem”, assim como o pai. 

Dali em diante, o menino passou a visitar o pai todas as semanas.